domingo, 28 de novembro de 2010

Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos

Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos de Tony Judt

Passados praticamente 30 anos da ascensão ao poder da dupla Reagam-Tatcher e do neo-liberalismo que romperam com o anterior consenso social-democrata é já possível fazer um balanço do resultado dessa viragem política no mundo ocidental.

Tony Judt dá aqui um importante contributo para esse julgamento explicando o sucesso da social-democracia no período pós II Guerra, criticando as ideias da escola de Viena e mostrando os resultados concretos das políticas neo-liberais seguidas - crescimento exponencial da desigualdade, ineficiência da nova gestão das empresas privatizadas, regresso do problema social que parecia resolvido. A prova final do desastre destas escolhas está à nossa frente: a terrível e longa crise iniciada em 2007 cujas destruidoras consequências económicas e humanas ainda estão em fase de concretização.

Judt advoga um regresso a uma social-democracia reinventada, adaptada ao mundo mais globalizado e tecnologicamente mais desenvolvido em que vivemos, em que a luta contra as desigualdades sociais seja a primeira prioridade.

Judt não é um dogmático e não pensa que a social-democracia seja o regime perfeito, é, para ele, simplesmente o menos mau considerando as alternativas – o socialismo real como foi vivido na antiga União Soviética e o neo-liberalismo actual. Daí que a defesa da social-democracia seja feita de um ponto de vista profundamente prático, esse sistema funciona melhor e de forma mais eficiente.

O medo da explosão social e da pauperização da sociedade serão em sua opinião os principais catalisadores do regresso da social-democracia.

Este foi o último livro, um verdadeiro testamento político, de Tony Judt que morreu, de doença prolongada, pouco depois de o acabar. O bom senso dos argumentos, a clareza das ideias e a tolerância dos ideais são consistentes com a defesa de um regime de compromisso e moderação social.

Poderia ser um livro amargo virado para o passado, não é. Pelo contrário é uma obra simples, clara, decididamente precursora de um futuro que Judt sabia já não poder viver.

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